ESTE BLOG FOI FEITO EXCLUSIVAMENTE SOBRE A VIDA E OBRA DA MAIOR CANTORA MODERNA BRASILEIRA DE TODOS OS TEMPOS. SÃO MAIS DE QUARENTA ANOS DE UMA TRAJETÓRIA BRILHANTE DESSA ESPETACULAR ARTISTA. ELA COMEÇOU COMO MARIA DA GRAÇA E HOJE SEU NOME É GAL.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Dionne Warwick e Gal Costa: apresentação conjunta planejada há anos




RIO - Entre uma xícara de café e um copo d'água, os planos para 2009 – revelam Gal Costa e Dionne Warwick, duas veteranas cantoras que dividem o palco em inédito encontro nesta quinta-feira, no Vivo Rio – vão tão longe quanto o horizonte que contemplam, do alto da cobertura de um hotel em Copacabana. A baiana de Salvador anuncia nova turnê seguida de DVD para outubro, e a americana de Nova Jérsey finaliza o ainda inédito Dionne Warwick & amigos, registro de imagens do show que gravou em 2007 no Brasil ao lado de Gilberto Gil, Jorge Benjor, Ivan Lins, Simone, Emílio Santiago e Milton Nascimento.

– Nossa! Não sabia que você ainda não havia lançado esse DVD – surpreende-se Gal, alternando o português com um inglês digno de guia turístico do Pelourinho. – Pô, não dá para me incluir nisso, não?

Com um largo sorriso, a diva ianque faz sinal afirmativo.

– Minha ideia é justamente esta – garante Dionne, ex-moradora do Jardim Botânico. – Não terminei o projeto porque ainda recolho material que faço questão de incluir, e sua participação neste show estará sendo filmada com esse intuito. Pretendo lançar o DVD no natal.

Dionne já está com sua banda completa no Rio. Ao lado de Kathleen Rubbicco (piano e diretora musical), William Hunter (teclados), John Shrock (teclados), Ernest Tibbs (baixo) e Jeffrey Lewis (bateria) destaca-se o percussionista brasileiro Renato Pereira, que integra a trupe há 14 anos.

– A banda é como uma família. Passo o Natal na casa da Dionne e não tem um aniversário meu em que ela não prepare alguma surpresa – conta Pereira.

O encontro com Gal Costa vinha sendo maturado pela americana há anos e esperava uma brecha em ambas as agendas para se configurar.

– O show é dela – faz questão de frisar Gal. – Fui convidada para fazer uma participação e aceitei com muita honra.

Coautoria renegada

Hiperativos, os olhos de Dionne brilham ao falar de seus projetos, que vão além das turnês. Do alto de seus 68 anos, a cantora – nomeada Embaixadora de Alimentos e Agricultura Mundial pela ONU em 2002 – continua debruçada na pesquisa para um livro sobre a história da cultura afro-americana, destinado para o uso didático em escolas.

– O legado africano é indispensável para a música, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil – concorda Gal. – É uma exuberância de felicidade e ritmos inegualável.


Intérpretes por excelência, a brasileira diverte-se ao contar à americana a rara ocasião em que uma composição lhe foi atribuída.

– Tinha uma música num disco coletivo que fiz com Bethânia, Gil e Caetano (a faixa Quando, gravada pelos Doces Bárbaros) – recorda. – Lembrei porque estávamos em uma cobertura, assim como agora, só que em Ipanema, no apartamento de Caetano e Dedé (ex-mulher do cantor). Os meninos empacaram em determinado trecho e eu, espontaneamente, sugeri uma solução. Resultado: me creditaram como coautora, mas não considero que compus, nem que mereça o crédito. Só dei uma ajudinha.

Caetano é lembrado também ao avaliar a atual produção brasileira.

– Ainda não ouvi seu novo disco, mas estou doida para conferir. Tenho certeza de que é genial – exulta Gal. – Volto a afirmar o que falei certa vez e quase me mataram. Disseram que eu achava que os novos compositores não são bons, mas é um fato: a minha geração continua sensacional, acima da média.

Novas cantoras, como Amy Winehouse, não fazem a cabeça de Dionne. Só de ouvir o nome da inglesa problemática, franze a testa e torce o nariz.

– Não me identifico com as letras – confessa. – Dos mais recentes, gosto de Beyoncé, Usher e Mariah Carey. Mas, quando estou em casa, o que rola no meu CD-player é muita MPB. Tenho uma enorme coleção: Djavan, Milton Nascimento, Caymmi e, claro, Gal Costa.

No fim do papo, a conversa toma rumos não musicais e uma unanimidade vem à tona.

– Barack Obama foi a melhor coisa que aconteceu para os Estados Unidos – celebra a americana.

– Foi o acontecimento mais importante dos últimos tempos para todo o mundo – faz coro Gal.

Show tem canções de Chico, Ary Barroso e hits americanos

Perguntadas sobre o repertório da inédita apresentação conjunta, Gal e Dionne fazem segredo.

– Tudo será uma surpresa – afirma a baiana, que ensaiou com a banda da parceira nesta terça.

As duas ainda fazem outro ensaio e, no dia do show, uma longa passagem de som. Quem conta isso é o brasileiro Renato Pereira, que desfaz um pouco da aura de mistério sobre o roteiro:

– Vai ter uma parte do set só com piano, com a participação do Cristóvão Bastos – adianta o percussionista. – O repertório vai ser baseado no disco Aquarela do Brasil, que Dionne lançou em 1994. Estão certas canções como Piano na Mangueira (Tom Jobim/Chico Buarque), Na baixa do sapateiro (Ary Barroso) e Heart of Brazil (Antonio Adolfo/Nelson Wellington/Marietta Waters).

O músico se diz ansioso para o show.

– Finalmente vou ver o encontro dessas amigas de longa data. Tenho certeza de que a química será muito boa. Os timbres das vozes delas se completam muito.

Pereira já tinha larga experiência como músico de estúdio nos EUA quando, em 1995, foi recomendado pelo tecladista John Shrock para integrar a banda de Dionne.

– Já a vi em duetos com artistas como Stevie Wonder e Whitney Houston, e hoje estou emocionado. Tenho certeza de que o encontro com Gal é da mesma dimensão – avalia.

Leandro Souto Maior, Jornal do Brasil
Foto: Maíra Coelho
22:44 - 05/05/2009

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