ESTE BLOG FOI FEITO EXCLUSIVAMENTE SOBRE A VIDA E OBRA DA MAIOR CANTORA MODERNA BRASILEIRA DE TODOS OS TEMPOS. SÃO MAIS DE QUARENTA ANOS DE UMA TRAJETÓRIA BRILHANTE DESSA ESPETACULAR ARTISTA. ELA COMEÇOU COMO MARIA DA GRAÇA E HOJE SEU NOME É GAL.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Gal Costa - Coliseu de Lisboa

Gal Costa e o guitarrista Piska - 1986


Gal é agora o nome de perfume sensual

Gal Costa, hoje uma das mais belas vozes do Brasil, em escalada internacional (dia 15 de março, concerto ao lado de Tom Jobim, no Tower Hall, em Nova Iorque) possivelmente virá a Curitiba para uma apresentação muito especial. Desta vez não será no auditório Bento Munhoz da Rocha Neto nem no Curitibano ou outro clube capaz de bancar o seu cachê.

Será num local sofisticado, em data e local ainda não escolhidos, para privilegiados convidados. Com um detalhe: nem Gal vai cobrar nada pela apresentação, nem haverá ingressos à venda - apenas convites numa listagem muito bem selecionada.

A razão é simples: o lançamento da linha de perfumes e cosméticos com a grife Gal Costa, em seu mais novo empreendimento. Como associada nesta diversificação de investimentos, Gal tem uma de suas melhores amigas, a curitibana Consuelo Cornelsen.

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Há muito tempo que Gal (Maria da Graça Costa Pena Burgos, Salvador, 26/9/45) pensava em ampliar suas atividades. Cantora desde os 15 anos, profissional a partir de 1965, hoje dona de uma solidíssima conta bancária e invejável patrimônio, Gal vem, nos últimos anos, internacionalizando sua carreira. No Japão já teve vários discos editados e em constantes apresentações nos EUA e alguns países europeus abriu ainda mais o seu mercado. Deixando a Polygram após 20 anos (ali em 1967, dividiria com Caetano Veloso o LP "Domingo") pela também multinacional BMG/Ariola, Gal está entre as superstars da canção brasileira.

De amizade com a arquiteta Consuelo Cornelsen, que há oito anos reside em São Paulo, surgiu a idéia de criar uma linha de perfumes de alto nível, "basicamente com um toque sensual", como diz Cristina, amiga e assessora de Consuelo. Os dois primeiros produtos - já estão prontos para o lançamento. A primeira das festas de introdução do novo perfume no mercado acontecerá em São Paulo, possivelmente no Palace, mas em data ainda não definida devido aos compromissos profissionais de Gal, inclusive o álbum que está terminando de fazer, ao lado de Antônio Carlos Jobim.

Afora o Rio de Janeiro, algumas (poucas) outras capitais serão incluídas no roteiro de lançamento que terá a presença da própria Gal. Como Cosuelo, sócia da Olobage Representações Comerciais Ltda. - a firma constituída para cuidar desta área - é curitibana e na chácara de sua família, em São José dos Pinhais, sempre que pode vem passar alguns dias - no mais completo anonimato, Gal se dispôs a fazer um lançamento-show em Curitiba.

Os planos para a linha de perfumaria com a grife Gal Costa são também internacionais. Tendo vivido muitos anos em Portugal - onde seu pai, o arquiteto Ayrton (Lolô) Cornelsen desenvolveu inúmeros projetos, Consuelo está fazendo contatos para que os produtos com o nome de Gal estejam, em breve, nas melhores perfumarias de Lisboa, ponta-de-lança para conquistar outros mercados (o francês será o mais difícil acesso, haja visto as exigências estabelecidas e que, inclusive, retardaram até agora a abertura da filial parisiense do Boticário).

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Nas embalagens do parfum e do eau de parfum, executadas pela Sograf, está o logotipo que Consuelo Cornelsen e seu ex-marido Guilherme Zarmoner - também arquiteto e programador gráfico (em seus tempos de estudante, chargista com trabalhos publicado em O Estado do Paraná) desenvolveram. O logotipo passará a ser usado não só na linha de perfumaria mas também nos discos, fitas, vídeos e "tudo mais que se relacione à Gal", explica Consuelo. Na procura de essências que traduzissem "a elegância e sensualidade", coube ao perfumista Jean-Claude Rochas, de Paris, desenvolver o produto que tem a produção de Mané do Brasil, enquanto a Whatiton cuida da fabricação dos frascos e a Avon do envasamento. "Procuramos a utilização dos melhores especialistas de cada área para a produção de um produto novo, capaz de atingir um público bem definido", explica consuelo. Dois profissionais da comunicação - Marilena Strada e Marcelo Lima, coordenam o projeto na área de divulgação. Para a venda em lojas de departamento e perfumarias, a eau de parfum e o parfum Gal Costa chegará ao consumidor aos preços ao redor de Ncz$ 19,00 a Ncz$ 21,00. Numa segunda etapa, serão lançados o batom e o shampoo.


Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
19/02/1989

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

O primeiro "topless' de Ipanema, isto é, do Brasil, em janeiro de 1972.

















Esta foto mudou a minha vida.
Bem, não exatamente “esta” foto, mas esta estória, este dia em janeiro de 1972. Depois deste final de tarde tudo na minha vida ficou diferente. Tudo mesmo. No Rio de Janeiro vivíamos em pleno “verão do amor”. Caetano e Gil tinham acabado de voltar do forçado exílio londrino, Gal cantava Fa-tal de sarongue todas as noites no teatro. E eles e outros famosos freqüentavam conosco, jovens anônimos, a praia da moda: o Píer de Ipanema. O pier era um emissário submarino que a prefeitura construía para levar o esgoto da cidade até o alto-mar. As areias recolhidas pelos tratores formavam dunas, apelidadas de Dunas da Gal, onde moçada ficava numa boa. Eu preferia chamar de “Vapor Barato”, nome de uma música que ela cantava, já que de cima das dunas víamos o mar, curtindo o maior “barato”, como que de um convés de navio, e de prefêrencia deixando o país. Era a época do "Brasil ame-o ou deixe-o", lema ufanista dos militares. A ditadura do general Garrastazu Médici (chamávamos de carrasco azul) estava no auge, pessoas eram mortas e torturadas nos porões da repressão e os antigos estudantes, manifestantes e “subversivos” que antes tentaram inutilmente mudar o regime, iam se dourar ao sol, como lagartos indolentes. Era o chamado “desbunde”, os dias eram longos e lindos e Ipanema era sempre uma festa! Tudo acabava na praia. Foi nesta época que algum poeta “doidão” ou gaiato começou a onda de aplaudir o pôr-do-sol. Modismo que ainda dura até o hoje. O pôr-do-sol de Ipanema é o mais bonito do mundo, mas naquela época quase sempre ficava meio encoberto pelas nuvens de “fumaça” que emanavam das praias e das “bocas”. Tinha dado a louca no nosso pequeno mundinho e ni nosso lindo balneário. O movimento hippie estava em total decadência no “resto do planeta”, mas no Brasil era mais efervescente do que Sonrisal, Alka-Seltzer ou sal de frutas Eno. Eu, por outro lado, estava ficando um cara mais sério. Tinha conseguido um estágio não remunerado na Bloch Editores, que publicava a revista Manchete, sonho de todo aspirante a fotógrafo. Alguns dos melhores do Brasil trabalhavam lá: Walter Firmo, Claus Meyer, Sebastião Barbosa, Gervásio Batista e tantos outros medalhões. E comandados por Justino Martins, jornalista brilhante. Até então, eu era da equipe do decadente Diários Associados, antigo império de comunicações fundado por Assis Chateubriand. Com a sua morte, seus herdeiros estavam destruindo tudo o que o “velho capitão” havia criado. Na Bloch, tive a sorte de ser escalado para a revista Pais & Filhos, que era editada porJosé Itamar de Freitas (que dois anos depois criou a fórmula do Fantástico, da Globo) e por Leonel Kaz (um dos melhores homens e secretários de cultura deste país). Põe sorte nisto! Na Manchete, que tinha uma impressão excelente, os fotógrafos eram obrigados a trabalhar com as fantásticas, porém pesadas e lentas, Hasselblads porque o cromo quadrado de seis centímetros (6X6) era o ideal para ser ampliado até o formato da revista. Na Pais&Filhos, menos visada, eu podia usar a minha Nikon, 35 milímetros, leve, ágil e com 36 chapas (fotos) por película. A Hasselblad só permitia 12 chapas, o que era um porre, pois tínhamos que trocar o filme toda hora. Na minha primeira sexta-feira na revista, me escalaram para fazer um ensaio de verão, no fim de semana, sobre crianças brincando nas areias da praia. E lá fui eu para o “Pier” de Ipanema com uma Nikon, uma pesada tele de 300mm, outras lentes e dois rolos de filmes coloridos. Mas como sempre, levei um filme Plus_X preto-e-branco, na mala. Fotografei durante a toda a manhã de sábado até as crianças irem embora por causa do calor. Naquela época o único perigo real era insolação ou queimaduras de sol. Ainda não havia o câncer de pele tão letal, que nem hoje – o buraco na camada de ozônio ainda era mais embaixo.... ou muito pequeno. Bem, acabei de fotografar as criancinhas e fui curtir a praia com todos os meus amigos que lá estavam. Algumas duas horas depois vi uma menina linda, mais linda mesmo, com flores na cabeça, que passava para lá e para cá sem a parte de cima do biquíni. E o que era mais interessante: ninguém olhava pros “peitos” da moça! Talvez os rapazes estivessem muito “chapados” para notar algo. E olha que era a primeira vez que alguém mostrava os seios em uma praia pública, de dia, e lotada de gente, no Brasil. Coloquei a teleobjetiva na Nikon e a fotografei de longe, passando por entre as pessoas e ninguém prestando atenção. Ninguém mesmo. Quando já tinha garantido umas dez chapas, troquei de lente, coloquei uma grande-angular e cheguei bem perto dela para fazer outras fotos.
Aí a praia virou a maior bagunça! Todo mundo começou a jogar areia em cima, aquela “zona” mesmo, mas só por sarro! E no meio daquela confusão uma outra moça também tirou o sutiã, em solidariedade à amiga. Mas o qüiproquó no circo estava armado. E logo ela teve que colocar a blusa e sair da praia. Foi então que fiz a foto acima. A notícia deste tal de "topless" se espalhou pela cidade e no dia seguinte, domingo, todos os grandes jornais e televisões mandaram equipes para o Píer de Ipanema para cobrir “as menininhas cariocas de peitinho de fora”.
Mas nenhuma moça, nenhuma mesmo, resolveu se expor. E eles voltaram sem matéria para as redações. Na segunda-feira mostrei as fotos para Samuel Wainer e Milton Temer, dois grandes jornalistas que editavam a revista Domingo Ilustrado, do mesmo grupo da Bloch. Eles adoraram e me deram a capa e mais três páginas. Então, no mesmo dia, Justino, editor da Manchete, pediu para que escrevesse um texto para a sua revista. Era um texto sério, falando que “seio não era mais atentado ao pudor”, contando a luta universal das mulheres para ter o direito de andar livremente, desde as famosas guerreiras amazonas. Justino achou que estava sociológico demais e mandou um redator dar uma apimentada no texto. Seriedade não vendia revistas. Na quarta-feira de tarde, algumas horas depois da revista com as minhas fotos ter ido para as bancas, a redação da Manchete foi invadida por dois militares fardados que acusavam duramente Justino Martins de ter contratado mulheres para fazer aquele papel tão contrário à moral da família brasileira. Eram dias e tempos de censura. E queriam porque queriam ter uma conversa com aquele “fotógrafozinho” que tinha feito aquela pouca vergonhice. Sorte minha que estava fazendo uma outra matéria em um subúrbio e só apareci na redação dois dias depois. Mas os mais velhos começaram a prestar atenção naquele garoto estagiário. Depois desse incidente, fui logo contratado pela Manchete e começaram a me dar matérias e viagens interessantes para fazer. Até culminar com a minha ida para Nova York como correspondente da revista. Mas isto já é outra estória.

Dezembro de 2005
1968



















Gal Costa classificou "Divino Maravilhoso", de Caetano Veloso, em terceiro lugar no IV Festival de Música Popular Brasileira. Eram os primeiros acordes do Tropicalismo na voz da musa do movimento, com seu cabelo crespo e suas roupas psicodélicas. O vencedor foi Tom Zé, com "São Paulo, Meu Amor", que marcou a carreira do cantor e compositor baiano.